Os médicos goianos aderiram à mobilização nacional da classe médica contra as más condições de trabalho e a baixa remuneração na rede pública de saúde e suspenderam o atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nesta terça-feira (25). A orientação do Cremego (Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás) e do Simego (Sindicato dos Médicos no Estado de Goiás) foi para a manutenção apenas do atendimento aos casos de urgência e emergência nas unidades públicas de saúde da capital e do interior.
Pela manhã, o presidente do Cremego, Salomão Rodrigues Filho; o diretor de Fiscalização do Conselho, Ciro Ricardo Pires de Castro; o presidente do Simego, Leonardo Mariano Reis, e o vice-presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Eduardo Santana, visitaram duas unidades da rede pública de saúde da capital. O objetivo era chamar a atenção da sociedade para a precariedade das condições de funcionamento desses serviços, um grave problema que atinge a maioria das unidades públicas de saúde e que compromete o trabalho dos médicos e o atendimento à população.
No Hospital Materno Infantil (HMI), unidade administrada pela Secretaria Estadual de Saúde e uma referência no atendimento nas áreas de pediatria e obstetrícia, os representantes do Cremego e do Simego se depararam com um dos maiores problemas na área da saúde em Goiás: a escassez de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Por falta de médicos intensivistas, dos 10 leitos da UTI materna apenas cinco estão funcionado; a UTI pediátrica foi desativada e a UTI neonatal conta com somente oito leitos.
“A situação está pior do que encontramos há dois meses”, disse o presidente do Cremego, se referindo ao resultado da vistoria feita pelo Conselho no final de agosto no HMI. Em 1º de setembro, o Cremego promoveu uma sessão plenária para debater a situação do hospital e cobrar dos gestores a solução dos problemas. Passados quase dois meses, não houve melhorias. “Pelo contrário”, observou o presidente.
A segunda unidade visitada foi o Centro de Assistência Integral à Saúde (Cais) da Chácara do Governador. Na unidade, que pertence à rede pública municipal de saúde e está entre as melhores da capital, os representantes do Cremego, Simego e Fenam reuniram-se com diretores e médicos e ouviram muitas queixas do corpo clínico. Na unidade, segundo os médicos, faltam desde medicamentos e materiais (como luvas) até água e papel higiênico. Faltam também equipamentos, como oxímetros, o que tem obrigado os médicos a utilizarem seus próprios aparelhos.
Durante as visitas, o presidente do Cremego ressaltou a necessidade de regulamentação da Emenda Constitucional número 29 para o aumento dos investimentos feitos pelos governos federal, estaduais e municipais na área da saúde. Salomão Rodrigues Filho também orientou os médicos a denunciarem ao Conselho as falhas detectadas nas unidades de saúde.
“Se um médico se depara com uma falha e não a denuncia, ele se torna cúmplice”, alertou o vice-presidente da Fenam, que conclamou todos os médicos a atuarem como multiplicadores das reivindicações da classe médica por melhores condições de trabalho, por mais investimentos na saúde e por melhoria salarial.
A mobilização dos médicos acontece hoje (25) em todo o país. Em 21 Estados, a categoria suspendeu o atendimento aos usuários do SUS. A mobilização é coordenada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), Associação Médica Brasileira (AMB), Federação Nacional dos Médicos (Fenam) e suas regionais.
Dando sequência às ações em defesa da saúde pública em Goiás, o Cremego promove no próximo dia 8, às 20 horas, uma sessão plenária para debater a situação do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), o maior pronto-socorro do Estado, referência no atendimento de urgência e emergência e que, segundo os médicos, também se encontra uma situação caótica.
Maiores problemas
Entre os principais problemas detectados pelo Cremego na rede pública de saúde em Goiás estão:
1) Déficit de médicos na rede pública
2) Baixo valor da remuneração dos médicos (o valor do salário inicial do médico da Secretaria Estadual de Saúde é R$ 2,5 mil e da Secretaria de Saúde de Goiânia, R$ 2,2 mil)
3) Falta de materiais e de medicamentos
4) Carência e defasagem dos equipamentos
5) Sobrecarga (quantitativa) de atendimentos
6) Fixação de cotas de pacientes para o atendimento médico diário
7) Falta de alvará sanitário em algumas unidades
8) Ausência de diretor-técnico médico na maioria das unidades
9) Unidades com estrutura física inadequada
10) Ausência de segurança para os médicos