Discussões envolveram a autonomia do paciente, etarismo e uso de tecnologias para monitoração da saúde
Com a apresentação de especialistas, o Cremego realizou o I Fórum de Geriatria, na manhã do último sábado (17). Os debates seguiram o tema “A velhice sob uma perspectiva bioética”, a fim de encontrar soluções para os danos gerados pelo etarismo nos cuidados com a saúde.
A médica geriatra e paliativista Dra. Isadora Crosara (CRM/GO 9995 | Geriatria – RQE 6363 | Medicina Paliativa – RQE 9086) abriu as discussões ao relatar o “tsunami prateado” que a sociedade vivencia, ou seja, o aumento da longevidade.
Neste cenário, surgem desafios e oportunidades para que a vida mais longa seja aproveitada de uma melhor forma. “Cabe a nós, profissionais de saúde, gestores e todos os envolvidos nos cuidados geriátricos trabalharmos por políticas públicas melhores. Portanto, desejo que esse evento nos inspire a construir uma sociedade mais inclusiva”.
A primeira palestrante, a conselheira do Cremego e médica geriatra, Dra. Loiane Moraes Ribeiro VIctoy (CRM/GO 11647 | Clínica Médica – RQE 6936 | Geriatria – RQE 7198) abordou o impacto do etarismo na atuação médica.
Ela mostrou que o preconceito em relação à idade gera prejuízos amplos, que atingem a saúde física, mental e o bem-estar social. Entre os impactos estão as decisões paternalistas, maior demora para chegar aos diagnósticos e até mesmo a exclusão em ensaios clínicos.
Essas intercorrências estão presentes não apenas nos consultórios dos geriatras, como lembrou a Dra. Loiane, mas também nas diversas especialidades médicas. “Por isso, eventos como esse são importantes para capacitar, alertar e estabelecer um diálogo, de forma a nos prepararmos para dar assistência a essa população”.
A tomada de decisão compartilhada
Os tipos de relação médico-paciente foram apresentados pelo conselheiro do Cremego e médico geriatra Dr. Ricardo Borges (CRM/GO 9377 | Geriatria – RQE 7085). Ele ressaltou como é perigoso “escorregar” no etarismo e esquecer que o idoso é um sujeito com direitos.
É preciso, portanto, mudar a crença de que os idosos não possuem capacidade de escolha e praticar a tomada de decisão compartilhada. “O paciente deve estar no centro do processo. Mesmo em casos de declínio cognitivo, as decisões precisam levar em consideração os interesses dele”, defendeu o especialista.
Medicina antienvelhecimento
Como o etarismo se insere na medicina antienvelhecimento foi o tema apresentado pela médica geriatra Dra. Elisa Franco (CRM/GO 5001 | Geriatria – RQE 943). Ela mostrou que, ao longo da história, diversas fórmulas para rejuvenescimento foram criadas.
Em meio a tantas opções, há o perigo de confundir superstição com ciência, sem esquecer dos objetivos financeiros dos produtos antienvelhecimento.
Um dos maiores problemas, contudo, é tratar o envelhecimento como doença, por exemplo, com a tentativa de inserir no CID 11. Essa é uma das raízes do etarismo, de acordo com a geriatra.
“Etarismo é quando não nos vemos no idoso ou também quando não queremos nos ver no futuro como idosos. A expressão ‘antienvelhecimento’ já mostra que é contra o envelhecimento, ou seja, contra algo considerado ‘ruim’. Portanto, é etarista”, resumiu ela.
A autonomia do paciente
Em continuidade aos debates do I Fórum de Geriatria do Cremego, o Dr. Celmo Celeno Porto (CRM/GO 650), médico, professor e pesquisador, compartilhou seus conhecimentos sobre a autonomia do paciente idoso e a prática médica humanizada.
“Não temos ainda a autonomia incorporada na prática médica”, definiu ele. Porém, o perfil do paciente mudou, com maior acesso ao conhecimento por meio da Internet, por exemplo.
“Agora, ele é chamado de ‘paciente informado e equipado'”, incluindo o surgimento de aparelhos avançados e de uso domiciliar que ajudam na monitoração da própria saúde.
Nesta situação, Dr. Celmo afirmou que o ensino médico deve ser transformado. “Caso contrário, seremos ótimos médicos, mas para os pacientes do século passado”.
Capacitação médica frente ao aumento da longevidade
A maior longevidade traz desafios na assistência à saúde, como apresentou o médico geriatra Dr. Rychard Arruda de Souza (CRM/GO 13063 | Geriatria – RQE 9631), atual presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Regional Goiás (SBGG-GO) e conselheiro do Cremego.
Ele mostrou a importância de combater o etarismo dentro das faculdades de medicina. “A grande maioria dos graduandos irá atender idosos depois de formados. Não é algo exclusivo dos especialistas”.
Projetos de extensão, eventos e atividades extracurriculares são algumas das atividades que ajudam na redução de preconceitos e na promoção de maior interação entre os futuros médicos e a população idosa, segundo exemplificou Dr. Rychard.
“Não podemos continuar com mentalidades antigas, precisamos mudar a percepção negativa que prevalece no meio acadêmico a respeito do idoso”.
A incorporação de novas tecnologias na assistência ao idoso
“Internet das coisas” e “Internet médica das coisas” são termos que indicam a evolução das máquinas de monitoração contínua da saúde, de acordo com a gastroenterologista e preceptora da Residência de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG), Dra. Cacilda Pedrosa (CRM/GO 7081 | Gastroenterologia – RQE 1981 | Hepatologista – RQE 10767).
As informações obtidas por esses dispositivos mudam a dinâmica da procura por assistência médica. As famílias dos idosos também se tornam mais atentas aos indicadores, como com os métodos de prevenção de queda.
Tais equipamentos e as informações geradas por eles podem promover maior independência à população idosa, mas ainda assim é preciso refletir sobre possíveis danos à privacidade, como lembrou Dra. Cacilda.
“Toda essa conexão irá transformar a telemedicina, fazendo com que ela não seja apenas uma consulta online, mas uma avaliação aprofundada, o que permite intervenções mais precoces e ações para evitar condições que colocam a vida em risco”, esclareceu.
A década do envelhecimento saudável
Para finalizar o I Fórum de Geriatria, a médica geriatra Dra. Juliana Junqueira (CRM/GO 9883 | Geriatria – RQE 6233) apresentou as ações realizadas no âmbito global, como pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para enfrentar os desafios que surgem com o envelhecimento da população.
“Atingimos uma evolução social, mas como serão os anos adicionais conquistados na expectativa de vida?”, questionou. Afinal, ao longo da sobrevida, um percentual será associado às doenças crônicas, que irão gerar graus de incapacidade aos indivíduos e demandas nos serviços de saúde.
O diagnóstico tardio de demência, por exemplo, causa maiores ônus ao paciente e à família. O mesmo ocorre com o controle ineficaz de doenças cardiovasculares e outras condições que impactam a qualidade de vida das pessoas idosas.
Assim, as pesquisas e cuidados devem envolver mais do que apenas avaliar a existência ou não de uma doença no momento presente. “A década do envelhecimento saudável se baseia em valorizar a capacidade intrínseca da pessoa, a habilidade funcional e o ambiente onde ela conduz sua vida. Os indicadores que temos hoje ainda não expressam a saúde completa do idoso, a fim de promover as políticas públicas necessárias”, descreveu.
Educação continuada no Cremego
A presidente do Cremego, Dra. Sheila Soares Ferro Lustosa Victor (CRM/GO 6906 | Pediatria – RQE 2446), ressaltou que eventos como o I Fórum de Geriatria estão no cronograma de ações do Conselho para promover educação continuada aos médicos e estudantes de Medicina.
Ela adiantou que estão previstos encontros para abordar assuntos de impacto em outras especialidades. “Encaminhem os temas que vocês possuem interesse e nos ajudem a construir um Cremego mais próximo dos médicos”.