No final da tarde de sexta-feira, 17 de agosto, o Hospital de Urgências de Anápolis dr. Henrique Santillo (Huana) retomou o atendimento normal aos pacientes que chegam à unidade encaminhados por serviços de saúde do município e de outras 58 cidades do Médio Norte Goiano. A normalização do atendimento aconteceu após a renovação do contrato entre o Governo do Estado e a Fundação de Assistência Social de Anápolis, gestora do hospital, que também recebeu parte do pagamento que estava atrasado.
O hospital, que realiza aproximadamente 700 internações e 550 cirurgias por mês, vinha funcionamento parcialmente desde o dia 15 de agosto, quando a diretoria decidiu restringir o atendimento apenas a paciente com risco de morte. Motivo: a não renovação do contrato entre o Estado e a Fundação e o consequente atraso de três meses no repasse de verbas ao hospital. Os materiais e medicamentos em estoque também estavam no fim e os salários dos cerca de 700 funcionários, atrasados há dois meses.
Ainda na manhã do dia 17, o diretor técnico do Huana, Luiz Cláudio Rezende Gonçalves, informou ao Cremego que o contrato já tinha assinado e que a renovação dependia apenas da outorga da Procuradoria Geral do Estado. No mesmo dia, com o fim do trâmite do processo e a quitação de parte da dívida, o Huana voltou a funcionar plenamente.
Para o presidente do Cremego, Salomão Rodrigues Filho, a renovação do contrato não soluciona totalmente os problemas do Huana, pois a remuneração mensal prevista no contrato em vigor, que soma aproximadamente R$ 2,6 milhões, é insuficiente para suprir as necessidades do hospital. “O que o Huana recebe não é suficiente”, diz.
A fundação gestora da unidade pleiteia o reajuste para R$ 3,25 milhões mensais. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, a Procuradoria Geral do Estado entendeu que, neste momento, era necessário manter os mesmos valores do contrato antigo.
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CREMEGO NA MÍDIA – O POPULAR – 18/08/12
Crise na Saúde
Hugo e Huapa sobrecarregados
Limitação de atendimento da Huana, que atendia apenas casos com risco de morte, aumentou demanda
Pedro Palazzo
A limitação no atendimento do Hospital de Urgências de Anápolis (Huana) gerou sobrecarga nos hospitais de urgências de Goiânia (Hugo) e Aparecida de Goiânia (Huapa). A unidade anapolina atendeu por quase 48 horas apenas pacientes sob risco de morte. A direção estima que 80 cirurgias e 250 atendimentos deixaram de ser realizados em cada dia. O atendimento foi normalizado no fim da tarde de ontem, depois de a organização social que gere a unidade – Fundação de Assistência Social de Anápolis (FASA) – receber do Estado R$ 2,8 milhões, referentes a um mês do contrato de gestão.
O superintendente executivo da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Halim Antonio Girade, afirma que o atraso de quase três meses nos repasses é consequência da burocracia na gestão pública. “Estamos muito chateados com essa burocracia.” Ele diz que as conversas para renovação do contrato de gestão começaram há um ano. “Neste período (o contrato) passou na mão de mais de cem pessoas: Controle interno, procuradoria. Isso é massacrante.”
Girade diz não haver relação entre a limitação do atendimento e do estoque de medicamentos e insumos da unidade com a renovação do contrato. “Não teve a ver uma coisa com a outra. Nós temos a obrigação de pagar.” Coincidência: se não pagasse, o estoque seria suficiente para mais uma semana, informa a FASA.
O contrato foi renovado por seis meses, até 20 de fevereiro de 2012. Girade diz que ontem foram liberados R$ 7,2 milhões, relativos a três meses de pagamento. Uma folha foi depositada na conta da FASA ontem. As outras deverão ser depositadas na segunda-feira. O mesmo vale para o repasse a ser feito para os funcionários que estavam sem receber.
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), Salomão Rodrigues Filho, diz que a renovação do contrato não basta: precisa ser refeito. “A situação precisa ser reanalisada pelo Estado. O que o Huana está recebendo não é suficiente”, diz. Demonstrativos de aplicação dos recursos recebidos pela FASA em 2011 mostram que a organização social estourou os gastos com pessoal e ficou aquém do programado em investimento, custeio e serviços. No segundo semestre do ano passado, foram gastos R$ 10 milhões com pessoal; 13% acima do programado. O gasto previsto para investimentos era de R$ 780 mil, mas a entidade só aplicou R$ 121 mil. Por fim, usou 98,5% dos R$ 15,6 milhões que recebeu naquele semestre.
A cada mês a organização social recebe, em média, R$ 2,6 milhões para gerir o hospital. Segundo o presidente do Cremego, o valor está abaixo do necessário. O médico e conselheiro do Cremego Elias Hanna afirma que, desde agosto de 2011, a FASA tenta aumentar o valor mensal para R$ 3,25 milhões. Hanna diz que o Hospital de Urgências da Região Sudoeste (Hurso) recebe R$ 3,6 milhões e atende um quarto dos pacientes de Anápolis e região.
Girade confirma as discussões para reajuste do valor do contrato e das metas para o Huana, mas o acerto não aconteceu e a renovação foi feita com o mesmo valor pago desde 2010. “Queríamos fazer um aditivo de ampliação de meta e aumento dos recursos, mas neste momento a procuradoria entendeu que tem que manter os mesmos valores”, diz o superintendente executivo.
Problemas também em hospitais de Anápolis
Paulo Nunes Gonçalves
O atendimento no Hospital de Urgência de Anápolis (Huana) voltou à normalidade às 17 horas de ontem, depois de uma paralisação parcial que provocou sobrecarga em pelo menos três unidades de saúde da cidade – Hospital Municipal Jamel Cecílio, Santa Casa de Misericórdia e Hospital Evangélico Goiano. O repasse de recursos de dois meses de atraso foi liberado ontem à tarde e assim a diretoria do Huana determinou a normalização do atendimento.
A paralisação vinha acontecendo desde a última quarta-feira por decisão da diretoria da unidade, devido a um atraso de dois meses no repasse feito pela Secretaria Estadual de Saúde. A justificativa apresentada pelo diretor do Huana, Luiz Claudio Rezende Gonçalves, era a de que os estoques de medicamentos seriam suficientes para apenas uma semana de funcionamento da unidade e assim, se não houvesse o repasse, o hospital corria o risco de sofrer um desabastecimento total.
O primeiro sinal foi um indicativo de greve dos funcionários, que na terça-feira, reunidos em assembleia, decidiram que esperariam pelo pagamento somente até ontem, caso contrário, manteriam apenas os atendimentos em que houvesse risco iminente de morte.
Durante os três dias de paralisação, o Hospital de Urgências atendeu somente 15% da demanda, que é, em média, 300 pessoas por dia. Nos casos cirúrgicos, por exemplo, o Huana, que fazia 22 intervenções diárias, passou a realizar somente quatro cirurgias.
SOBRECARGA
Uma das unidades mais afetadas pela paralisação do Huana foi o Hospital Municipal, que além de não ter estrutura para um aumento na demanda, não dispõe de equipamentos para atender procedimentos transferidos do Hospital de Urgências. Essa foi a situação enfrentada pela dona de casa Francisca de Araújo, de 74 anos, que sofreu um acidente em sua residência, localizada na zona rural.
Ela precisava amputar os dedos da mão direita, mas depois de esperar o dia inteiro para ser atendida, teve que voltar para casa apenas com um curativo. A filha, Maria de Fátima Félix, que é trabalhadora rural, estava revoltada e ao mesmo tempo preocupada com uma possível infecção na mão de sua mãe.
O operador de máquinas Wisney Rodrigues de Oliveira também se mostrava inconformado com o atendimento dado a seu pai, que sofreu um acidente. Do Hospital de Urgências ele foi encaminhado para o Hospital Municipal para realizar duas cirurgias, uma na bacia e outra no maxilar.
Ao chegar no Municipal, o paciente ouviu da equipe médica que a unidade não tinha meios de realizar os procedimentos. “Eu fico mais preocupado porque ele já sofreu um AVC e ainda tem problema de trombose”, reclamou.