Em Aparecida de Goiânia o número de casos suspeitos da doença cresceu 150% nos primeiros quatro meses do ano Rosane Rodrigues da Cunha As estatísticas dos órgãos de saúde da capital e de Aparecida de Goiânia mostram que a dengue voltou a atacar com força total em 2005. O número de casos suspeitos da doença em Aparecida de Goiânia aumentou mais de 150% nos primeiros quatro meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Até o dia 16, a Secretaria Municipal de Saúde já havia registrado 2.119 casos de dengue contra os 836 notificados em 2004. Em Goiânia, já foram notificados 3.440 casos no primeiro quadrimestre, 316 (10,1%) a mais do que o do mesmo período do ano passado e 1.036 a menos do que o de todo o ano anterior. Após dois anos sem óbitos por dengue, a doença já fez duas mortes na Grande Goiânia. No dia 6 de março, uma jovem de 19 anos, moradora do Jardim Guanabara, morreu de dengue hemorrágica. Na terça-feira, o serralheiro Carlos Henrique Monteiro, 28, que morava no Setor Independência, próximo ao Independência das Mansões – o bairro de maior incidência da doença em Aparecida de Goiânia –, também morreu. A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia investiga a suspeita de outra morte por dengue, de. O paciente estava no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) e morreu ontem. Além do crescimento do número de casos notificados, chama a atenção das autoridades o aumento da quantidade de pessoas infectadas na mesma casa ou no mesmo ambiente de trabalho. A secretária Raquel Oliveira contraiu dengue há duas semanas. Moradora no Setor Pedro Ludovico, Raquel acredita que foi contaminada no prédio em que trabalha, na Praça Cívica. O local, segundo ela, está infestado pelo Aedes aegypti, o transmissor da doença. “A todo momento, é possível ver mosquitos nas salas de todo o prédio e no jardim”, diz Raquel, que ainda se recupera da febre e das dores provocadas pela dengue. Raquel não foi a única contaminada no prédio. “Pelo menos mais três colegas contraíram dengue”, conta. A alguns quilômetros da Praça Cívica, no Conjunto Vera Cruz 1, sete moradores da Rua VC 13 tiveram dengue. Na casa da farmacêutica aposentada Delza Dias Ribeiro Guimarães, no Setor Aeroporto, a nora dela, Suzi, 30, apresentou os sintomas da doença no dia 13. Em menos de dois dias, o filho mais velho dela, Marlos, 35, o caçula Túlio, 30, e a mãe Oréstia, 84, também tiveram dengue. Infestação favorece concentração de casos A concentração de casos de dengue em uma mesma família, entre vizinhos, colegas de trabalho e outras pessoas que compartilham o mesmo ambiente, segundo Elizabeth Silva de Oliveira Araújo, coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Aparecida de Goiânia, tem uma explicação simples. “Temos pessoas contaminadas e uma grande infestação do mosquito transmissor da doença”, declara, ressaltando que a soma desses fatores deixa as pessoas próximas mais expostas à contaminação. Para agravar a situação, três tipos de vírus da dengue circulam na Grande Goiânia, o que aumenta o número de adultos e crianças sujeitos à infecção. É que mesmo que já tenha contraído o vírus do tipo 1, a pessoa pode ser infectada pelos vírus do tipo 2 ou 3. Elizabeth observa que neste ano está sendo registrada prevalência da contaminação pelos vírus 2 e 3, mais agressivos do que o tipo 1. O vírus do tipo 3, de acordo com a coordenadora, pode causar uma forma grave de dengue, diferente da dengue hemorrágica, mas que provoca sangramentos e pode levar à morte. Esse vírus circula em Goiás desde 2002 e ganhou força neste ano. Neuda Alves Fraga, do Departamento de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, também observa que com os três vírus em circulação e o aumento dos focos do mosquito, a população fica mais exposta à epidemia. “Precisamos quebrar a cadeia de transmissão”, diz, acrescentando que essa quebra depende da eliminação dos focos do mosquito transmissor. Os órgãos de saúde, segundo ela, trabalham em conjunto para acabar com os focos, mas a população também precisa contribuir eliminando os criadouros do Aedes aegypti. Segundo Elizabeth Araújo, com o mosquito e os vírus em circulação, é importante trabalhar para reduzir a incidência da dengue. “A doença não tem vacina ou outra forma de prevenção que não seja a eliminação do mosquito transmissor”, diz. A saída para evitar complicações da dengue é ficar atento e ao apresentar os primeiros sintomas da doença, procurar uma unidade de saúde. Elizabeth alerta que dengue é um doença grave, que não pode ser tratada de forma banal. Tratamento “O paciente não deve achar que com água e analgésico vai se curar”, avisa, ressaltando a importância da consulta médica. Em Goiânia, a população pode procurar os Centros de Assistência Integral à Saúde (Cais) e, em Aparecida, as unidades da rede pública, quatro delas com funcionamento 24 horas. Elizabeth acredita que a melhoria da assistência prestada à população tem sido fundamental para prevenir os óbitos. Para ela, o aumento do registro da doença entre menores de 10 anos também pode ser atribuído à melhoria da assistência, pois antes muitos casos nessa faixa etária não eram diagnosticados. Com a melhoria do diagnóstico, a incidência em Aparecida de Goiânia saltou de 2% para 10% entre menores de 10 anos. Doentes criticam falta de combate Vítima de dengue, a secretária Raquel Oliveira critica as ações de combate à doença desenvolvidas pelos órgãos públicos. Ela denuncia a existência de focos do mosquito transmissor da dengue em toda a cidade. O zootecnista Túlio Élvio Ribeiro Guimarães, outra vítima da dengue em Goiânia, também cobra ações mais eficazes do poder público para combater a doença. Segundo ele, apenas na Rua 55-A, onde mora no Setor Aeroporto, cerca de 12 pessoas contraíram dengue. Guimarães garante que a casa dele está livre dos focos, mas não dos mosquitos que se proliferam em criadouros da vizinhança, como uma construção abandonada em uma rua próxima. Túlio conta que antes de contrair dengue, ele e a mãe, a farmacêutica aposentada Delza Dias Ribeiro Guimarães, entraram em contato com o disque-dengue por várias vezes, solicitando a eliminação dos focos da vizinhança. “Mas, nada foi feito”, diz Delza. Apenas quando Túlio, a mãe dela, o filho mais velho e a nora contraíram dengue, foi que Delza recebeu a visita dos agentes de saúde. “Eles visitam as casas a cada 60 dias, mas o mosquito tem um ciclo de vida mais curto”, diz Guimarães, para quem as ações de combate deveriam acontecer em intervalos menores. Morador no Conjunto Aruanã Park, o major aposentado José de Souza também reclama dos serviço de combate à dengue. “Temos muitos focos do mosquito no bairro”, afirma. Trabalho feito por 459 agentes Geraldo Edson Rosa, diretor do Departamento de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, garante que 459 agentes já se revezam no trabalho de combate à dengue na capital. Uma ação que, nos próximos dias, ganhará o reforço de mais 36 agentes. O disque-dengue, um serviço criado para atender as denúncias da população, de acordo com o diretor, funciona de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas, e atende a cada solicitação em até 24 horas. As equipes, diz, também trabalham nos finais de semana. A cada dois meses, elas percorrem as casas, aplicando larvicida em possíveis criadouros que não podem ser eliminados e orientando a população sobre a importância do combate aos focos do mosquito, que se reproduz em água limpa e parada. Quando é diagnosticado um caso da doença ou alto índice de infestação, os agentes fazem a borrifação de inseticida, até usando o fumacê. A maior incidência de focos, de acordo com Rosa, está na Região Sul, em bairros mais antigos e de maior concentração populacional, como o Centro, Setor Bueno e Jardim América. Ele afirma que o trabalho dos órgãos de saúde e de limpeza urbana é adequado, mas só tem eficácia com a colaboração da população. (O Popular, 21/04/05)

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