Confira a matéria publicada em 29/12/14 no jornal O Hoje
O HOJE
Procura-se pediatra
No início do ano, a falta de pediatras aumenta em até 50%. Para os pais é mais um tormento a ser enfrentado
Marcelo Tavares
Os meses de dezembro e janeiro significam luta para os pais que precisam de atendimento pediátrico para os filhos. Aliada à falta de profissionais da área, nessa época de férias, a situação fica mais crítica porque muitos médicos optam por tirar férias ou entrar em recesso devido às comemorações de fim de ano.
Diante desse cenário, conseguir uma consulta é quase impossível. Até mesmo quem tem plano privado de saúde enfrenta grandes dificuldades para encontrar profissionais disponíveis em clínicas ou hospitais.
A enfermeira Cristiane Lima, de 33 anos, lembra que o período de férias é ideal para procurar atendimento médico para as crianças porque fica mais fácil conciliar a agenda de trabalho com a dos filhos que estão em férias escolares.
No entanto, ela admite que esbarra no fato dos profissionais estarem de recesso. “Ou você marca com bastante antecedência ou a única solução é buscar atendimento nas urgências e emergências”, comenta.
“Se durante o ano já é complicado conseguir vaga, no fim de ano, a situação piora mais ainda. O sofrimento aumenta porque não encontramos vagas com nenhum médico”, destaca a enfermeira, que tem dois filhos pequenos, Márcio Vinícius Vieira Costa Santos, de 9 anos, e Miquéias Gabriel Costa Santos, de apenas dois meses.
Cristiane explica que até para quem possui plano de saúde a situação é difícil. Ela diz que para conseguir uma consulta com pediatra para os dois filhos, que estão inclusos em um plano de assistência particular que custa mensalmente cerca de R$600, é preciso sair de uma consulta com a próxima já marcada.
O pediatra Rosseny da Costa Júnior, que atende em um consultório particular e também em unidades de saúde do município e do Estado, reconhece que no período de férias há um crescimento de pelo menos 50% na procura por atendimento médico. “A demanda é grande em qualquer época, mas em dezembro e janeiro, a procura por consultas de rotina aumenta bastante”, destaca o profissional.
Demanda maior
Apesar da elevação na demanda, o médico diz que não é possível aumentar o número de pacientes atendidos porque trabalha com horário marcado. Rosseny atende, em média, 30 crianças por dia durante quatro dias na semana. O pediatra explica que os atendimentos são para pacientes que não estão doentes, mas que procuram o serviço para fazer exames exigidos pela direção das escolas nas atividades de educação física ou para um check-up.
De acordo com ele, quem busca uma vaga com o profissional precisa ter um pouco de paciência. “Hoje, por exemplo, quem quer marcar uma consulta só tem vaga para o mês de fevereiro”, conta.
Rosseny Júnior comenta que o que contribui para esse quadro é a falta de pediatras que não têm interesse em fazer atendimento em consultório. O médico diz que na clínica onde trabalha, o número de profissionais caiu de 22 para sete nos últimos sete anos. Segundo ele, a falta de interesse na especialidade é gerada pela baixa remuneração.
Se a situação é ruim para quem procura atendimento particular, na rede pública a realidade é pior ainda, onde os poucos pediatras estão sendo deslocados para atendimento nas urgências e emergências.
“Está faltando estímulo para o profissional trabalhar na rede pública. Falta, por exemplo, a criação de plano de carreira como existem para os juízes e outros profissionais. Hoje, o que recebo por mês na prefeitura ganho em dois dias no consultório. Já coloquei na minha cabeça que trabalho como voluntário porque gosto. Se receber bem, se não amém. Se você for pensar em dinheiro, não trabalha na rede pública”, acrescenta o pediatra.
Cremego acredita em melhorias para breve
Mas para o presidente do Conselho Regional de Medicina em Goiás (Cremego), Erso Guimarães, não falta pediatra, mas o que houve foi uma diminuição de interesse na especialidade devido à remuneração ser igual às de outras áreas e este profissional ter maior exigência porque precisa fazer acompanhamento mais de perto do paciente, justamente por ele ser criança.
Sobre a falta de vagas, Guimarães afirma que, como qualquer outra área, o médico tem férias e naturalmente há uma maior restrição no período de fim de ano. Em relação ao número restrito de profissionais na pediatria, ele ressalta que em um ou dois anos é possível que o problema seja sanado justamente pela maior procura este ano para a residência na pediatria. “Muitos estudantes estão interessados na área justamente porque está sendo noticiado que há carência de médicos pediatras.”
Através de sua assessoria de imprensa, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que atualmente 182 pediatras fazem o atendimento do público infantil em consultórios e nas urgências e emergências da Capital. Lembrando que o atendimento neste último setor está concentrado em quatro unidades, que são os Cais de Campinas e Novo Mundo, Hospital das Clínicas e Materno Infantil. (M. T.) 29/12/14