Em entrevista ao jornal O Popular, publicada no dia 8 de julho, o presidente do Cremego, Leonardo Mariano Reis, condenou duramente as recentes fraudes descobertas em vestibulares de medicina e cobrou uma apuração rígida por parte da polícia e a punição dos responsáveis. “Entendemos que esse é um delito grave, que deve ser bem apurado e os responsáveis precisam ser punidos exemplarmente. É algo muito sério”, disse o presidente, para quem tanto os criminosos que fazem parte da quadrilha, quanto os candidatos que se dispõem a participar do esquema fraudulento, precisam ser punidos exemplarmente. “É antiético e o profissional que sai da universidade com esse tipo de entrada constrange a categoria e difama a classe”.

Confira a matéria completa:

 

Fraude em vestibular de Medicina beneficiou 67 estudantes em Goiás

 

OPERAÇÃO MONGE Polícia prende cinco dos nove integrantes do esquema. Grupo que atuou em 11 processos seletivos em dez meses pode estar agindo há 10 anos

Natália Araújo

 

Com o segundo esquema descoberto em menos de um ano, pelo menos 67 alunos foram beneficiados com fraudes em vestibulares para Medicina, em Goiás. De acordo com a Polícia Civil, a organização criminosa desmantelada na quinta-feira fraudou 11 processos seletivos de faculdade goiana e de Estados vizinhos, tendo movimentado aproximadamente R$ 5 milhões em dez meses. No entanto, grupo atuaria há mais de 10 anos.

“Nas averiguações, identificamos mais de 110 alunos que fraudaram as provas nas instituições: UniRV, campi Goianésia e Aparecida de Goiânia, Unifenas, em Belo Horizonte e Alfenas, Universidade Católica de Brasília (UCB) e também na Faciplan”, diz o delegado Cleybio Januário Ferreira, da unidade Estadual de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco).

Dos 110 alunos, 52 já estão matriculados nas instituições, e outros 15 se registrariam na UniRV, na próxima semana. Os 43 restantes não teriam se beneficiado do esquema. Segundo a Polícia Civil, os candidatos eram naturais de vários Estados, mas principalmente de Goiás e Minas Gerais.

O grupo garantia a aprovação nas provas objetivas. Ao candidato, cabia resolver a avaliação de redação. Caso não fosse aprovado no vestibular, o candidato não precisava pagar e poderia continuar tentando.

Primeiramente foram apontados nove integrantes na organização criminosa e cinco deles foram presos: o líder do grupo. Rogério Cardoso de Matos, os aliciadores Osmar Pereira Evangelista Filho, Fernando Batista Pereira, que também atuava como negociador e mensageiro, além da mensageira Elisangela Nunes Borges e o piloto Matheus Ovídio Siqueira. Matheus. Elisangela e Osmar foram liberados. Com eles, a polícia apreendeu R$ 150 mil e 6 carros de luxo. Outros quatro membros estão foragidos (veja quadro).

ESQUEMA

O esquema tinha início assim que o candidato em aliciado por meio de redes sociais na internet e aplicativos de celular ou ainda nas conversas entre os estudantes com o discurso sobre uma aprovação fácil no vestibular para medicina. Por cada pessoa, o aliciador recebia R$ 10 mil. O candidato que aceitasse integrar o esquema pagava entre R$ 80 e R$ 90 mil, ao fazer a matrícula. 

Os pilotos eram responsáveis por resolver a prova. Matheus, estudante de engenharia civil da Universidade Federal de Goiás (UFG). respondia as provas de exatas. Outro piloto, as de humanas. Por cada certame, Matheus recebia entre R$ 15 e R$ 20 mil, afirma o investigador.

Após a resolução, as respostas eram enviadas aos mensageiros que repassavam aos candidatos. As mensagens eram recebidas em celulares que estavam escondidos nas roupas íntimas. Em uma gravação da polícia. Fernando aparece orientando o uso de, pelo menos. três peças de roupa íntima para conseguir entrar com o aparelho telefônico.

Durante as investigações, a polícia se passou por fiscais de um dos certames e acompanhou a movimentação de Matheus. O rapaz resolveu a prova em 30 minutos. O delegado pontua que não foram identificadas evidências de participação de servidores ou fiscais.

Foram investigados os certames realizados desde setembro de 2016 até o mês de junho de 2017. Entretanto, em relatos dos próprios suspeitos, o grupo atuava há mais de dez anos. “Antes de 2011, a legislação não contava com o crime de fraude no certame de interesse público. Da organização, aqueles que já foram presos anteriormente à essa data, foram absolvidos em instâncias superiores”, explica. O esquema era realizado apenas para o curso de medicina.

 

Estudantes serão expulsos

 

As universidades ciladas na investigação repudiaram o esquema de fraudes para vagas em cursos de medicina, O reitor da Universidade de Rio Verde (UniRV), Sebastião Lázaro Pereira afirmou que suspeitou de atitudes de alguns candidatos, o que o levou à denunciar. Ele explica que colaborou com as investigações e que considera a conduta grave. “Os alunos que já estão estudando, serão expulsos. Os que fizeram aprova, não vão se matricular.”

Pereira explica que aguarda lista a ser enviada peia Polícia Civil com os nomes dos alunos que ingressaram na UniRV por meio da fraude. “Atrasamos a matricula desse semestre para aguardar as investigações. Temos candidatos que, na teoria passaram no vestibular, mas que não serão matriculados.” Ele condena a prática criminosa e entende que esse tipo de aluno será péssimo profissional.

Pereira explica que a universidade mantém rigor na fiscalização dos estudantes em dias de prova do vestibular e. justamente por isso, foi possível iniciar a investigação. Ele cila que, durante outros processos, já ocorreram casos de alunos serem flagrados nos banheiros com celular e iodos foram excluídos do andamento do processo de seleção. Mas até então, não se sabia sobre o esquema lodo.

A Faculdades Integradas da União Educacional do Planalto Central (Faciplac) informou que terceiriza o processo seletivo, mas que a entidade é de extrema confiança e que os envolvidos serão expulsos. A Universidade Católica de Brasília (UCB) diz que preza, há 43 anos, pela transparência em seus processos seletivos e repudia qualquer alo que atente contra os princípios de moralidade e legalidade.

Um dos foragidos da operação Monge, realizada pela Polícia Civil, que desarticulou uma organização criminosa que fraudava vestibulares de medicina em instituições particulares já foi detido pela Polícia Federal, em 2015. Rodolfo Gomes Matos, que atua como aliciador e negociador no esquema desmantelado esta semana, foi um dos quatro presos na Operação Gabarito, sob a suspeita de fraude no vestibular da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO)e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

De acordo com a PF, os detidos faziam as provas para terem acesso ao conteúdo das avaliações da prova de medicina e repassar as informações ao restante da associação criminosa. O caso está em tramitação na Justiça Federal.

Sobretudo, a Polícia Civil relatou que Rodolfo foi expulso da instituição, mas depois conseguiu retornar. Porém, acabou mudando de curso e estaria planejando ir para o Rio de Janeiro para onde teria transferido os estudos.

 

Entidades condenam prática de candidatos

 

Presidente do Cremego, Leonardo Mariano Reis vê com preocupação a conduta dos candidatos. “Entendemos que esse é um delito grave, que deve ser bem apurado e os responsáveis precisam ser punidos exemplarmente. É algo muito sério.”

Reis entende que, tanto os criminosos que fazem parte da quadrilha, quanto os candidatos que se dispõem a participar do esquema fraudulento, precisam ser punidos exemplarmente. “É antiético e o profissional que sai da universidade com esse tipo de entrada constrange a categoria e difama a classe.”

Ele espera que a Polícia Civil possa concluir os trabalhos para inibir casos semelhantes. Ele não entende que essa situação cause mácula no exercício profissional de outros estudantes das universidades que foram alvo da fraude. “É importante que a Polícia Civil faça um trabalho minucioso e apresente os nomes de quem já entrou no curso ou até mesmo se formou com esses meios ilegais para que medidas possam ser tomadas.”

O presidente do Cremego entende que a maior parle dos candidatos chega à aprovação por esforço próprio.

Secretário de comunicação do Sindicato dos Médicos no Estado de Goiás (Simego), Rafael Cardoso Martinez destaca que o ingresso na faculdade, em qualquer curso, exige esforço e dedicação. “Ficamos preocupados com o fato de uma pessoa que pretende aluar na medicina já comece dessa maneira, burlando as regras e passando por cima de leis e cometendo crimes.”

Martinez acrescenta que, não apenas na medicina, mas em qualquer situação, é exigido que se trate com respeito, que se faça o certo. “Ser ético é uma obrigação de qualquer pessoa. Defendemos, como sindicato, que o caso seja bem apurado e que todos os envolvidos possam ser punidos. Vemos essa conduta, especialmente do candidato, com preocupação. “

Martinez entende que por ser um curso visado e concorrido, o vestibular de medicina seja alvo mais recorrente desse tipo de prática. Em novembro do ano passado, cinco pessoas foram presas suspeitas de fraudar um vestibular em Mineiros (cidade a 425 km de Goiânia). A quadrilha cobrava R$ 150 mil pela vaga “Vemos ludo isso com preocupação, já que é um curso exaustivo e exigente. O aluno, futuro médico, deve ser ético desde o início.” (Fonte: O Popular)

 

 

(Rosane Rodrigues da Cunha/ Assessora de Comunicação Cremego 10/07/17)

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