Confira a matéria publicada no jornal O Popular em 9 de dezembro de 2017

 

O POPULAR

Técnica segue sem liberação

CFM reconhece cirurgia metabólica como opção para o tratamento do diabetes, mas resolução deixa de fora o procedimento do médico goiano que operou Romário e Faustão

O reconhecimento da cirurgia metabólica como opção ao tratamento de diabetes tipo 2 pelo Conselho Federal de Medicina(CFM), ocorrido na quinta -feira, manteve o procedimento desenvolvido pelo médico goiano Áureo Ludovico de Paula de fora das recomendações para a terapia. A decisão determinou o uso da derivação gastrojejunal como preferencial para a terapia, ü método difere do utilizado pelo cirurgião, que consistente em uma interposição de íleo.
A técnica utilizada por Áureo se tomou conhecida após sua aplicação em personagens conhecidos como o ex- jogador Romário, o apresentador de TV Fausto Silva e o ex senador Demóstenes Torres. Sua aplicação causou polêmica e, em 2011, o CFM recusou recomendá-la, pela ausência de “estudos e pesquisas que comprovem sua eficácia e sua segurança para os pacientes para serem autorizadas”, como disse, à época, a entidade.
Em sua publicação, feita na quinta feira, o órgão ressaltou que “nenhuma outra técnica cirúrgica é reconhecida para o tratamento desses pacientes”.
Ainda que o procedimento realizado por ele não Lenha sido incluído entre as indicações do órgão normalizador, Áureo celebrou. “Em treze anos, a cirurgia metabólica nunca havia sido reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como tratamento para o diabetes. O mais importante da resolução é isso. Veio tarde, mas veio”, disse o médico, referindo se ao período em que o procedimento realizado por ele teve slatus de experimental.
Porém, para alguns especialistas, como o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), a avaliação ainda se mantém. Uma pratica é considerada experimental. Os resultados não são conclusivos para a liberação. O risco benefício não dá segurança para que seja liberado”, afirmou Leonardo Mariano Reis, presidente da entidade.
Para Áureo, no entanto, apenas a realização da interposição de íleo teria como objetivo principal o tratamento da doença. “Reconheceram uma cirurgia para a obesidade, que tem como resultado secundário a diminuição do diabetes. A cirurgia (de interposição de íleo) tem foco no diabetes e ter o peso ideal é uma questão paralela”, defende.
Criticada pelo médico, a exigência de que os candidatos à cirurgia metabólica tenham índice de Massa Corporal (IMC) entre 30kg/m2 e 34,9 kg/m2 é prevista pelo CFM. “Não se pode fazer uma amarra matemática a um problema biológico do porte do diabetes. É algo que toda a comunidade científica abomina. “
OUTROS PAÍSES
No exterior, diz ele, o método que utiliza é uma opção aceita. “Eu opero no mundo inteiro. Nós somos líderes em cirurgias para diabetes há anos, mas não há reconhecimento. Ele só ocorreu no momento que veio de fora para dentro do País”, opinou.
Ontem, o profissional viajou para a índia, onde realizará cirurgias de interposição de íleo. Desde 2005, quando a opção pelo procedimento se tomou conhecida no Brasil, o médico tem atuado, também, em países como Estados Unidos, Itália, Portugal, Espanha, França e Turquia, segundo conta ele.

Técnicas diferentes
O médico coordenador da Câmara Técnica de Cirurgia Bariátrica do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), Paulo Reis, explica que as técnicas regulamentadas pelo CFM diferem da interposição ileal realizada por Áureo. Segundo ele, o procedimento realizado pelo goiano implica em uma retirada ainda maior do estômago do paciente. “A gastrectomia nesse caso provoca uma redução de 80%. O estômago fica como se fosse um tubo. Depois, levam o íleo, que fica na parte mais baixa do intestino, para a parte mais alta”, detalha.
Reis destaca que nos procedimentos regulamentados apenas o estômago é impactado. De acordo com o especialista, caso não haja contraindicação ou a derivação gastrojejunal se mostre não vantajosa, será feita a gastrectomia vertical, também conhecida como sleeve. “Nesse caso se retira em tomo de 70% do estômago. Isso favorece a melhora metabólica”, diz.
Em ambos os casos, comprovou se que as cirurgias agora regulamentadas aumentam a liberação de insulina por células do pâncreas, além de diminuir a resistência hepática e periférica à ação do hormônio. Por isso, os procedimentos, antes aplicados apenas para casos de obesidade, tiveram liberação também para o controlada diabetes tipo 2.
Segundo Reis, a interposição ileal, que em tese traria os mesmos resultados que as cirurgias citadas, não tem reconhecimento da comunidade científica. “Para um procedimento ser regulamentado tem que mostrar segurança e eficácia. Precisa ser submetido a um comitê de ética, ser aprovado e ter seus dados acompanhados”, pontua.
O membro da Câmara Técnica sobre Cirurgia Bariátrica do Conselho federal de Medicina (CEM), Ricardo Cohen, pondera que a interposição ileal já passou um longo caminho para demonstrar sua viabilidade, o que ainda não aconteceu. “Começamos estudar isso em 2005 e não há ainda a comprovação de que seja segura”, diz. “É uma operação que deve ser investigada. Não deve ser feita rotineíramente”, destacou.

Atuação de médico é polêmica
Em meio a procedimentos bem sucedidos, inclusive entre artistas e políticos como Fausto Silva, o senador Romário (Podemos), o ex-senador Demóstenes Torres, também há registros de mortes e sequelas supostamente provocadas pela inter-posição ileal, procedimento realizado pelo médico goiano Áureo Ludovico de Paula. O caso de Daliana Kristel Gonçalves Camargo, de 39 anos, é um desses tristes exemplos e foi parar na Justiça.
Os autos do processo revelam que em 2002, aos 24 anos de idade, ela media, 1,6Om e pesava 76kg. Pretendendo emagrecer rapidamente, ela Leria sido influenciada por Áureo a chegar aos 100 kg, quando poderia ser submetida a um procedimento de redução do estômago, o que aconteceu em 2005.
Na ocasião, ela foi informada pelo médico que seria realizado um procedimento comum de gastrectomia. No entanto, o relatório pós cirúrgico indicou que ela passou por uma gastroplastia vertical com banda por abordagem vídeo laparoscópica associado a interposição ileal.
Pouco depois, o pesadelo começou. A mulher relatou que precisou ser internada diversas vezes e chegou a vomitar até 50 vezes ao dia. Km procedimentos posteriores, desenvolveu uma fístula e ainda teve o pulmão perfurado. Ela relata, ainda, que descobriu ter sido submetida a uma operação experimental somente por meio de entrevistas concedidas pelo médico à imprensa.
INDENIZAÇÃO
Pelos danos sofridos, ela pediu o valor de R$ 1 milhão de indenização por danos estéticos e morais. O caso foi julgado em 2015 pelo juiz Romério do Carmo Cordeiro, que considerou que faltou nexo de causalidade da debilidade física de Daliana com o procedimento a que foi submetida. Por isso, ele determinou o pagamento de R$ 50 mil pelo médico e pelo Instituto de Neurologia de Goiânia, onde o procedimento foi realizado, pela “omissão ou inadequação da informação prestada no momento da contratação do procedimento”.
A defesa de Daliana recorreu da decisão e aguarda o julgamento em segunda instância.
Paciente elogia procedimento
Um dos pontos de defesa do médico goiano Áureo Ludovico de Paula é o índice de pacientes curados do diabetes. Além do caso do ex-jogador e senador Romário, que foi operado pelo profissional em dezembro de 2016 e reagiu bem ao procedimento, há casos na própria capital.
Antônio Cupertino Craveiro é um deles. Operado em janeiro de 2010, ele diz ter optado pela técnica a partir de experiências compartilhadas por amigos e conhecidos, que tinham realizado cirurgia bariátrica.
Aos 70 anos, o aposentado celebra. “Minha vida é boa. Se tenho o que lamentar, é não ter feito a cirurgia antes”, comemora.
O ex-bancário foi submetido ao procedimento quando pesava quase 100kg – hoje, tem 66kg. Á época, o goianiense sofria com a perda gradual da visão e com a pressão alta.
“O período pós-cirúrgico, que depende do paciente, foi parte do sucesso absoluto da cirurgia”, diz ele, que se diz “super disciplinado”.
Antônio é enfático ao falar sobre a falta de reconhecimento do procedimento. “É experimental para quem a desconhece.
Quem busca pesquisar sabe que é algo que existe há muitos anos”, defende. (CA)

 

O POPULAR CLIPPING 09 12 17

 

 

(Rosane Rodrigues da Cunha/Assessora de Comunicação – Cremego 09/12/17)

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