O atendimento na rede pública de saúde em Goiânia voltou a ser debatido ontem, 29 de maio, no Cremego. A plenária temática, que teve como pauta principal o atendimento e a triagem nos Centros de Atenção Integral à Saúde (Cais) da capital, foi coordenada pelo 2º vice-presidente Fernando Pacéli Neves de Siqueira e pelo 1º secretário Rômulo Sales de Andrade e reuniu conselheiros e diretores do Cremego, a presidente do Sindicato dos Médicos no Estado de Goiás (Simego), Franscine Leão, e médicos que atuam nas unidades de saúde em Goiânia. A Secretaria Municipal de Saúde e o Ministério Público do Estado de Goiás foram convidados, mas não compareceram ao debate.

Relatos de fiscalizações feitas pelo Cremego na rede pública de saúde e depoimentos de médicos e diretores que trabalham nestas unidades reforçaram a caótica situação da saúde na capital goiana, um problema que já tinha sido denunciado pelo Conselho em uma carta aberta à população publicada no dia 15 de abril. Durante a plenária, em todos os depoimentos, ficou evidente o descaso dos gestores com o setor, o agravamento dia a dia da situação e o sucateamento das unidades, o que vem comprometendo o funcionamento dos serviços, afetando o trabalho dos médicos e, principalmente, prejudicando o atendimento à população, que fica sem acesso a uma saúde de qualidade, um direito que deveria ser garantido a todos pelo Estado.

Fernando Pacéli criticou a omissão da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia diante da grave situação e a interferência do Poder Judiciário nas fiscalizações feitas pelo Cremego e nas determinações encaminhadas aos gestores visando à solução dos problemas. Ele recordou o caso do Cais de Campinas, cuja interdição determinada pelo Cremego foi suspensa pela Justiça, o que manteve a unidade funcionando de forma precária.

Diretor de Fiscalização do Conselho, Erso Guimarães, que também já presidiu o Cremego, disse vivenciar o descaso do governo com a saúde em sua prática diária de atendimento na rede pública. “O paciente até pode ter acesso à consulta, mas não consegue fazer os exames necessários para dar sequência ao atendimento”, citou. Segundo ele, as pessoas que não têm como custear esses exames ficam sem assistência.

Franscine Leão acrescentou que o problema atinge também municípios do interior e o médico acaba sendo vilanizado. “Dizem que o médico não quer trabalhar, não cumpre plantão, não aceita o salário, mas não somos os vilões desta história”, afirmou, ressaltando que a falta de condições de trabalho é um fator que deixa o médico em situação de vulnerabilidade e o afasta do serviço público, onde ele não tem como exercer a medicina com qualidade e ética.

A plenária aprovou a intensificação das divulgações pelas entidades médicas de informações sobre esse caos na saúde e a necessidade urgente de melhorias no setor. As entidades vão ampliar seu trabalho nas mídias e divulgar uma carta à população mostrando a crise na saúde e cobrando que o direito da sociedade a uma assistência de qualidade seja respeitado.

 

Leia também a carta já divulgada pelo Cremego

 

A saúde não pode continuar sendo negligenciada

 

Uma das funções do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) é a fiscalização do exercício da profissão, sempre zelando pelo respeito à ética médica e pelo bom atendimento à população. Nos últimos anos, o resultado desta tarefa, que vem sendo cumprida pelo Cremego com seriedade e rigor, tem revelado o agravamento dia a dia de uma crise que compromete o trabalho do médico, coloca em risco o exercício da profissão, a segurança e a saúde do profissional e resulta em uma assistência muitas vezes morosa, sem resolutividade e longe da qualidade que a população deveria receber.

Essa precarização da saúde pública, com o desmantelamento de serviços, a superlotação das unidades de atendimento, escassez de profissionais, falta de materiais e medicamentos, ineficácia da assistência, enfim, total descaso e desrespeito com o médico e com a sociedade, vem acontecendo apesar da atuação do Cremego.

A cada fiscalização feita dentro do cronograma rotineiro de trabalho do Conselho ou atendendo a denúncias, o Cremego notifica as diretorias das unidades, as Secretarias Estadual e Municipais de Saúde e o Ministério Público Estadual, apontando as falhas e cobrando providências em prazos estabelecidos. Contudo, o que temos recebido como resposta só reforça o descompromisso com a saúde pública e limitações legais nos impedem de ir além.

As consequências desta falta histórica de compromisso com a saúde podem ser vistas na crise que atinge hoje unidades, como o superlotado Hospital Materno Infantil e o Cais de Campinas. No caso do Cais de Campinas, ressaltamos que após seis anos ininterruptos de fiscalização, cobranças e concessões de prazos para reparos, o Cremego interditou eticamente a unidade em setembro passado, mas ao invés de sanar as falhas, a Secretaria Municipal de Saúde preferiu recorrer à Justiça e liminarmente garantiu o funcionamento precário do serviço.

Além das deficiências já citadas, mudanças administrativas também têm comprometido o atendimento na rede pública. Uma delas foi a recente alteração na forma de liberação de internações no Hospital Araújo Jorge, uma referência em tratamento de câncer em toda a região. A burocratização desta liberação, imposta pela Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, vem represando o atendimento, retardando o início da assistência e comprometendo o tratamento de centenas de pacientes.

Diante deste quadro já caótico e de seu anunciado agravamento, o Cremego vem a público cobrar dos órgãos gestores da saúde, do Governo Estadual e da Prefeitura de Goiânia ações imediatas e concretas para sanar as deficiências nas unidades públicas. A contratação de mais médicos tem pouca ou nenhuma eficácia se as condições de trabalho não forem melhoradas.

Esperamos uma resposta urgente dos gestores e contamos com o apoio do Ministério Público e da sociedade para que juntos possamos continuar trabalhando e, principalmente, alcançando um resultado positivo com esse trabalho, garantido aos médicos condições de atender e à população, condições dignas de atendimento. A saúde não pode continuar sendo negligenciada.

Goiânia, 15 de abril de 2019

 

(Rosane Rodrigues da Cunha/Assessora de Comunicação Cremego 29/05/19)

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