Ano 7 Nº 364 16/01/2013

 

Matérias publicadas hoje, dia 16/01/13, no jornal O Popular, página 6 e 7

 

Os médicos também são vítimas 

Salomão Rodrigues Filho  

Nada justifica a falta do médico ao plantão para o qual está escalado. O artigo 9º do Código de Ética Médica reza que: “É vedado ao médico deixar de comparecer a plantão em horário pré-estabelecido ou abandoná-lo sem a presença de substituto, salvo por justo impedimento. Na ausência de médico plantonista substituto, a direção técnica do estabelecimento de saúde deve providenciar a substituição”. Fica claro que o médico escalado não pode faltar ao plantão, que o médico que está no plantão não pode abandoná-lo até a chegada do sucessor e que o diretor técnico tem que providenciar a substituição. Registramos que, apesar da exigência legal, os Centros de Atendimento Integral à Saúde (Cais) não têm diretores técnicos médicos. 

O Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), construído há mais de 20 anos, é hoje incapaz de atender toda a demanda de urgências e redefiniu o seu perfil de atendimento, restringindo suas ações às urgências dos pacientes vítimas de trauma. Não existem unidades públicas capazes de realizar o atendimento das urgências não relacionadas ao trauma, pois o Hospital de Urgências de Aparecida (Huapa) e o Hospital de Urgências de Trindade pouco ou nada acrescentaram até agora.

Equivocadamente, a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia optou por transformar os Cais, unidades de atendimento ambulatorial, em unidades de atendimento à urgência. O atendimento ambulatorial ficou prejudicado e o atendimento à urgência não foi beneficiado. A estrutura física inadequada, aliada à carência de equipamentos, de material, de medicamentos e de pessoal preparado, transformou o Cais em lugar de presenciar morte e não de salvar vida.

Um dos caminhos seria a pactuação com a rede hospitalar privada, que tem qualificada capacidade de atendimento da demanda, o que poderia ser feito em curtíssimo espaço de tempo e ser uma solução temporária ou duradoura. Outro caminho seria a edificação de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Estas unidades foram idealizadas pelo Ministério da Saúde para o atendimento às urgências, na proporção de uma para cada cem mil habitantes.

O ministério fornece o projeto, custeia a construção e contribui para o funcionamento das UPAs. Aparecida tem uma em pleno funcionamento que merece ser visitada e mais duas já autorizadas pelo ministério. Senador Canedo tem uma recentemente inaugurada. Goiânia ainda não tem nenhuma.

A desmotivação do médico para trabalhar no sistema público de saúde goianiense tem fulcro nas péssimas condições de trabalho, caracterizadas por ambientes inadequados, falta de materiais, de equipamentos e de pessoal qualificado. Fundamenta-se também na desvalorização profissional, caracterizada pelo vínculo empregatício precário, insegurança, ausência de carreira e salários irrisórios. Se o médico não estiver motivado o sistema não vai funcionar. Por falta de motivação existe hoje uma grande rotatividade de médicos nos postos de atendimento do sistema público. A continuar a política de desmotivação, em breve não teremos médicos dispostos a assumir tão grande responsabilidade por tão pouco.

O Código de Ética Médica estabelece e o Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) propugna para que todos os médicos cumpram rigorosamente a sua carga horária e não faltem aos seus plantões. A falta de médico a plantão é exceção e não a regra, uma vez que a grande maioria cumpre com as suas obrigações e as mazelas da assistência pública à saúde não podem continuar sendo transferidas indevidamente para o médico.

O caos que reina na assistência médica em Goiânia não é culpa do médico que é vítima tanto quanto a população que necessita receber assistência no sistema público. Inoperância, ideologização excessiva, equívocos administrativos e desvalorização do médico resultaram no que temos hoje.

Estamos esperançosos que o novo secretário de Saúde, Fernando Machado, fará as necessárias correções de rumo e encontrará caminhos para motivar o médico a se dedicar ao trabalho no sistema público de saúde de Goiânia.

EDITORIAL

Descaso com a saúde

Os casos de pacientes sem atendimento médico continuaram em Goiânia nesta semana, a exemplo do que vem sendo registrado desde o final do ano passado. O problema está configurado especialmente em unidades do Centro Integrado de Assistência Médico-Sanitária (Ciams) e do Centro de Assistência Integral à Saúde (Cais).

A falta de médicos tem sido a justificativa para a crise. A Secretaria Municipal de Saúde alega que o problema agrava-se neste período porque muitos dos chamados para trabalhar desistem para fazer residência médica ou para aproveitar outras oportunidades na carreira. Seja qual for a justificativa, o paciente que necessita do atendimento e não o encontra tem a sensação de descaso. Muitos reclamam, e com razão, que este atendimento é um direito e não um favor.

É preciso que as autoridades responsáveis removam com muita urgência as causas dessa precariedade e que aprendam a trabalhar com planejamento. Se a falta de profissionais é recorrente todo início do ano – seja por desistência de aprovados em concurso, de férias ou mesmo por faltas aos plantões –, cabe aos gestores a elaboração de planos de contingenciamento para evitar as crises, que se agravam nesta época do ano em função da coincidência com o período de chuvas e, consequentemente, o aumento nos casos de dengue. Prevenir, como bem orientam os profissionais de saúde, é melhor que remediar.

CARTAS PUBLICADAS

Falta de médicos

No episódio dos diretores e médicos que fraudaram o controle de ponto no Cais Novo Horizonte, gostaria de parabenizar o secretário municipal de Saúde de Goiânia, Fernando Machado. Tão logo assumiu o comando da pasta, ele procurou dar andamento à apuração de responsabilidades no caso, remetendo a sindicância ao Ministério Público.

Aplaudo também a postura equilibrada com que o secretário vem enfrentando o problema da falta de médicos na rede, cuja solução, a meu ver, depende de duas medidas: primeiro, a garantia do cumprimento das escalas de plantão pelos médicos, o que o secretário já está fazendo. Depois, a convocação de concursados para preenchimento dos déficits existentes.

Neste sentido, como usuário do SUS, gostaria de contar com a colaboração do prefeito Paulo Garcia, pois todos sabem que as nomeações passam pela gestão da Prefeitura e não apenas da Secretaria Municipal de Saúde.

GUSTAVO MESSIAS

Parque Amazônia – Goiânia

Gostaria de saber de nossos governantes a razão de tanto descaso com a saúde pública, em Goiás e em todo o Brasil. No Estado, o secretário de Saúde é médico; em Goiânia, o prefeito é médico e o secretário de Saúde também. Não vemos melhoras nenhuma, e o problema sempre tende a aumentar.

No início de janeiro, levei uma netinha a um Cais de Goiânia, porque ela estava com muita febre e algumas feridinhas na boca. A pediatra olhou, receitou antibiótico e disse que era coisa simples, uma virose – sempre a mesma resposta. Como o estado de saúde dela agravou-se, tive de procurar uma unidade de saúde particular, e a menina ficou internada durante cinco dias, porque não se alimentava.

Para pagar a conta, tivemos de arranjar dinheiro emprestado. Gostaria que nossos gestores deixassem de rodeios e respondessem com toda sinceridade o porquê desse drama em que estamos vivendo. Sempre aparecem com aquela desculpa da falta de médicos e também a falta de dinheiro.

Para construir estádios de bilhões, sempre tem dinheiro, mas para construir bons postos de saúde e contratar profissionais, sempre apresentam desculpas que, por incrível que pareça, são sempre as mesmas.

Em épocas de eleições, eles prometem de tudo, mas depois de eleitos, somem e nunca mais conseguimos falar com eles. Só mais uma pergunta: por que o governador, o prefeito e seus secretários não vão até aos postos de saúde? Aí, quem sabe, a coisa melhorava.

RÔMULO TAVARES

Jardim Olímpico – Goiânia 

 

 

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