Em defesa de todos nossos colegas e amigos médicos residentes diante de reajustes pífios a cada quatro a cinco anos da Bolsa de Residência Médica, que a deixa cada vez mais insignificante e absurda. 

Engraçado alguns staffs mais antigos que referem que se dedicavam única e exclusivamente à Residência Médica e cobram isso dos atuais residentes, como se hoje fosse uma opção. 

Em 2000, a Bolsa de Residência Médica representava quase 10 vezes o valor do salário mínimo.  Se corrigida para hoje, na mesma proporção, ela seria de R$ 10.173,13. 

No entanto, ao longo dos anos, enquanto o salário mínimo, inflação e juros, sofriam correções anuais, a bolsa se mantinha estagnada. E quando ocorria uma correção, a cada quatro ou cinco anos, nunca era nem de perto compatível com o valor do reajuste dos demais.

E a cada ano, a Bolsa de Residência se tornou cada vez menos representativa, até chegar ao ponto de ser incompatível com a manutenção de custos básicos. 

Não bastasse isso, a proposta inicial da Residência Médica, seria que o médico residente morasse no próprio hospital ou ao lado do mesmo. Além da Bolsa, portanto, o residente gozava de moradia e alimentação. O que não se vê em mais de 95% dos programas de Residência atuais. 

A valor atual da Bolsa, não paga sequer a moradia do profissional em algumas capitais do País. E ainda exigem carga horária exorbitante de trabalho, que embora estabelecida 60 horas semanais, em muitos serviços médicos residentes ultrapassam 100 horas. Fora o assédio e abuso moral.

O governo banaliza uma profissão tão importante. Faz promessas de reajustes anuais, visando conter greves e manifestações, mas nunca as cumpre. Observamos repetidas reportagens de 2006, 2010, dentre outros anos, garantindo ajustes anuais da bolsa, que nunca ocorreram. 

Dessa forma, fica inviável, que o profissional se mantenha na Residência Médica, por conta própria, sem trabalho externo. Visto não ter condições de bancar moradia, alimentação, transporte, vestimenta, livros e materiais compatíveis com a prática médica, que são onerosos.

Isso representa não só um abuso e exploração ao profissional, como também repercute em todo sistema. Visto que gera profissionais cansados, sobrecarregados, muitas vezes exaustos, não só pela própria Residência, como pelos serviços externos aos quais têm que se submeter diante da necessidade, muitas vezes de sustentar sua família.

Para uma nação que prega o acesso de todos à educação, essa postura favorece única e exclusivamente aqueles que tenham outrem com condições de bancá-los durante o período, ou reservas prévias, desfavorecendo os menos favorecidos.

Todo este conjunto provoca uma queda na qualidade do atendimento. Aumenta índice de erros e, consequentemente de doenças, comorbidades e morbidade. Gera desperdícios. Conflitos. E contribui com o ascendente número de suicídios na área médica, o que reforça um grandioso prejuízo financeiro, imensurável prejuízo pessoal e irreparável prejuízo psicológico.

Se a greve for o único caminho, devemos, sim, parar. 

Não devendo apenas esperar que nos valorizem. Devemos nos valorizar e não aceitar esmolas figurando reajustes. Um reajuste de 20% nem sequer corrige a desvalorização monetária. 

Se fosse exigido o mesmo valor proporcional de 2000, atualmente receberíamos R$ 10.173,14. Se a correção viesse de 2013 pra cá e a bolsa fosse corrigida na mesma proporção, o valor seria de R$ 4.587,01. Isso seria o mínimo. Em 2013 houve um reajuste de 55,30% da bolsa. 

Devemos parar. Nos valorizar. E não aceitar menos que isso. Merecemos um reajuste verdadeiro, que faça a diferença!

Por uma saúde de Qualidade. Não só ao paciente como ao profissional de saúde.

Se somos cuidadores. Cuidemos de todos, inclusive de nós! 

 

Edlon Luiz Lamounier Júnior (CRM-GO: 16.080) – Médico residente (R4) de Mastologia do Hospital e Maternidade Dona Íris

 

(Publicação autorizada pelo Presidente/Cremego 04|03|20)

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