NOTA DE ESCLARECIMENTO REPORTAGEM BOM DIA GOIÁS
Goiânia, 19 de abril de 2023
A Sociedade Goiana de Ginecologia e Obstetrícia, a Associação Médica de Goiás e o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) vêm a público manifestar seu descontentamento à reportagem jornalística divulgada em 19 de abril, no Jornal Bom Dia Goiás, da TV Anhanguera, que noticiou ação da Defensoria Pública para apurar casos de supostas violências a parturientes em maternidades públicas de Goiás.
O termo “violência obstétrica” foi utilizado de forma pejorativa, incitando nos telespectadores a ideia de que o médico obstetra e demais profissionais envolvidos na assistência às gestantes antes, durante e após o parto, cometem violência contra suas pacientes, o que é totalmente errado e injusto.
Além disso, durante a reportagem, o entrevistado da 6ª Defensoria Pública de Atendimento Inicial da Capital, erroneamente, caracterizou alguns procedimentos como violentos na condução do parto seguro, como uso de ocitocina, fórceps e episiotomia.
É importante saber que para formar um médico obstetra são necessários seis anos de graduação em Medicina e outros três em residência médica. São aproximadamente 8 mil horas dedicadas à saúde da mulher na residência médica e 300 partos realizados por ano, sendo que 80% são via vaginal. Neste período, o médico aprende a realizar procedimentos e utilizar tecnologias e aparelhos favoráveis à assistência do parto seguro. Diretrizes que são, inclusive, reconhecidas pelo Ministério da Saúde¹.
A ocitocina tem sido utilizada no manejo do parto e na prevenção e tratamento da hemorragia puerperal e apresenta vários benefícios: corrige o trabalho de parto disfuncional, permitindo um nascimento saudável por via vaginal; diminui as taxas de cesárea; reduz sangramento e necessidade de transfusões sanguíneas – aproximadamente 3% a 5% das pacientes obstétricas terão hemorragia pós-parto, que é a causa de um quarto das mortes maternas em todo o mundo. Vincular o uso da ocitocina no trabalho de parto à prática de “violência”, significa desconhecimento completo sobre atendimento seguro ao parto².
A episiotomia (cirurgia realizada sob anestesia nos músculos do assoalho pélvico) visa facilitar a liberação da cabeça fetal no parto difícil. Em algumas situações, como no parto instrumentado, a episiotomia pode proteger a parturiente de lesões no seu esfíncter anal evitando a grave sequela de incontinência fecal; noutras, como na suspeita de sofrimento fetal durante a expulsão, a episiotomia pode ser essencial para evitar a asfixia do bebê e suas principais sequelas, a encefalopatia e a morte². A episiotomia não é indicada para todos os casos, mas aproximadamente 20 a 30% dos casos possuem indicação.
De cada 10 partos vaginais, pelo menos 2 são submetidos a partos instrumentalizados, com uso de fórceps e vácuo-extrator, mecanismos que podem, inclusive, salvar a vida da mãe e do bebê. Outra questão que precisa ser esclarecida é que há situações cirúrgicas inerentes em qualquer procedimento cirúrgico na pelve que pode provocar lesões na bexiga, o que não quer dizer que é um ato de violência contra a gestante, mas uma complicação cirúrgica.
Vincular as palavras violência e obstétrica é um desrespeito e cria o sentimento de repúdio de uma classe que luta pelo parto adequado e pela qualidade no atendimento às mulheres gestantes. A imensa maioria dos médicos obstetras e demais profissionais envolvidos no acompanhamento e acolhimento à gestante possui uma conduta técnica e ética estimável. São pessoas dedicadas, comprometidas com as boas práticas, corteses com as gestantes, acompanhantes e recém-natos e que honram seu juramento de promover a melhor e mais adequada assistência ao paciente.
A Sociedade Goiana de Ginecologia e Obstetrícia, a Associação Médica de Goiás e o Cremego estão abertos para a discussão e esclarecimento de temas que dizem respeito à saúde da mulher.
1. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf 2.
2. https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/1435-posicionamentofebrasgo-contra-violencia-obstetrica
Sociedade Goiana de Ginecologia e Obstetrícia
Dr. Alexandre Vieira Santos Moraes – Presidente
Associação Médica de Goiás
Dr. Washington Luiz Ferreira Rios – Presidente
Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego)
Dr. Fernando Pacéli Neves de Siqueira